Empresas americanas auxiliam na vigilância dos Jogos Olímpicos de Pequim

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Nos preparativos para os Jogos Olímpicos de Pequim e uma série de outros eventos internacionais, algumas empresas americanas estão ajudando o governo chinês a projetar e instalar um dos sistemas mais abrangentes de vigilância pública de alta tecnologia do mundo.

Quando informados sobre as transações das empresas, os críticos do histórico de direitos humanos da China disseram que o trabalho viola o espírito das sanções aprovadas pelo Congresso após o massacre da Praça Tiananmen.

Mas o Departamento de Comércio diz que os sistemas sofisticados que estão sendo instalados, por empresas como Honeywell, General Electric, United Technologies e IBM, não violam a proibição de fornecer à China “equipamento ou instrumentos de controle ou detecção de crime”. Mas o departamento instaurou uma revisão em 45 dias de suas políticas para venda de equipamento de controle de crime à China.

Com atletas e espectadores vindos de todas as partes do mundo, todo país sede das Olimpíadas busca instalar o melhor sistema de segurança que pode. Em uma época de preocupações acentuadas com o terrorismo, poderia ser argumentado que equipamento de vigilância de alta tecnologia é uma parte indispensável dos preparativos de segurança da China. E dado o enorme potencial econômico da China, as corporações estão sempre ávidas em estabelecer uma cabeça-de-ponte aqui, e os Jogos Olímpicos propiciam uma ótima oportunidade.

Mas por ser o regime mais autoritário a sediar uma Olimpíada desde a União Soviética em 1980, a China também apresenta desafios particulares. Após a partida dos visitantes, dizem especialistas da indústria de segurança, o equipamento de vigilância que as empresas ocidentais deixarem para trás fornecerão às autoridades daqui novas ferramentas não apenas para rastrear criminosos, mas também dissidentes.

“Eu não conheço nenhuma operação de coleta de inteligência no mundo que, ao dispor de um novo brinquedo, não o utilize”, disse Steve Vickers, um ex-chefe de inteligência criminal da polícia de Hong Kong que atualmente lidera uma firma de consultoria.

De fato, a mais recente edição da revista do ministério de segurança pública da China lista de forma proeminente locais de adoração religiosa e cafés de Internet como pontos para instalação de novas câmeras.

Um funcionário do Departamento de Comércio que insistiu no anonimato disse que a agência está analisando toda sua lista de exportações proibidas, incluindo equipamento militar, apesar da venda de equipamento de controle de crime para a China estar passando por uma revisão rápida, especial. Ao ser perguntado sobre se o equipamento identificado como comercial pelos fabricantes ocidentais poderia ter aplicações de controle de crime, o funcionário respondeu: “Pode haver usuários na China que encontrem utilidades para eles para as autoridades”.

As multinacionais relutam em discutir suas vendas para as forças de segurança da China, mas elas dizem ter feito tudo o que era necessário para cumprir as leis relevantes.

Não é fácil conseguir a informação, mas um esboço do esforço gigantesco da China pode ser obtido a partir de entrevistas com engenheiros na convenção bienal do ministério da segurança pública, em visitas às fábricas chinesas de câmeras de vigilância e delegacias de policia, e em relatórios sobre a China preparados por empresas-membro da Associação da Indústria de Segurança, uma entidade setorial com sede em Alexandria, Virgínia.

Entrevistas com especialistas e executivos de segurança na Ásia e nos Estados Unidos também fornecem detalhes previamente desconhecidos sobre os sistemas que as empresas americanas estão fornecendo.

A Honeywell já começou a ajudar a polícia a instalar um elaborado sistema de monitoramento informatizado para analisar as imagens de câmeras internas e externas em um dos bairros mais populosos de Pequim, onde se encontram várias arenas olímpicas.

A empresa está trabalhando em sistemas mais amplos em Xangai, em preparação para a Feira Mundial de 2010 que será realizada ali -além de sistemas de segurança públicos e privados em Guangzhou, Shenzhen, Nanjing, Changsha, Tianjin, Kunming e Xi’an.

A GE vendeu para as autoridades chinesas seu poderoso sistema VisioWave, que permite que as autoridades de segurança controlem milhares de câmeras de vídeo simultaneamente e que as alerte automaticamente sobre objetos suspeitos ou que estão se movendo rapidamente, como pessoas correndo. O sistema será instalado no centro nacional de convenções de Pequim, incluindo o centro de imprensa olímpico.

A IBM está instalando um sistema semelhante em Pequim que deverá estar pronto antes das Olimpíadas e analisará e catalogará pessoas e comportamentos.

Julie Donahue, a vice-presidente de segurança da IBM para serviços de segurança e privacidade, disse para um serviço de notícias de tecnologia no início de dezembro que em meados do próximo ano a IBM instalaria em Pequim seu recém-desenvolvido Smart Surveillance System, uma rede poderosa que liga um grande número de câmeras de vídeo. Representantes da empresa recusaram os repetidos pedidos de entrevista para falar sobre o sistema ou discutir os comentários de Donahue.

A United Technologies enviou três engenheiros da Lenel, sua subsidiária de segurança em Rochester, para Guangzhou, a maior metrópole no sudeste da China, para adaptar uma rede de 2 mil câmeras a um único bairro, o primeiro passo para uma rede municipal de 250 mil câmeras a serem instaladas antes dos Jogos Asiáticos de 2010. A empresa também está negociando contratos para construção de tal rede.

Os críticos argumentam que todos estes programas violam o espírito, se não a letra, da lei americana aprovada em resposta à repressão militar na Praça Tiananmen, em 1989.

O Departamento de Comércio, encarregado de desenvolver a regulamentação para que a lei entre em vigor, defende suas regras. O departamento proíbe as exportações cujo único propósito seja manutenção da lei, como equipamento para detecção de impressões digitais em cenas de crime. Mas sistemas de vídeo são autorizados se forem “alarmes industriais e civis contra invasão, controle de movimento de tráfego ou de indústria ou sistemas de contagem”, segundo a regulamentação.

Como as multinacionais cada vez mais fabricam alguns sistemas de segurança na China, as regras de exportação são irrelevantes. Mas a lei pós-Tiananmen também proíbe as empresas de usarem tecnologia de segurança americana de outras partes do mundo para fornecer produtos proibidos para a China.

As empresas notam que os produtos que fornecem não são proibidos pelo governo. A Honeywell disse que cumpre a letra e espírito das leis de todos os países onde atua. A GE disse que analisou a venda do VisioWave para a China e acredita ter cumprido plenamente tanto a letra quanto o espírito da lei.

A United Technologies disse que o equipamento que está vendendo para Guangzhou não é proibido segundo a legislação. A IBM disse apenas que cumpre as leis americanas.

James Mulvenon é diretor do Centro para Pesquisa e Análise de Inteligência, uma prestadora de serviço ao governo em Washington que realiza análises confidenciais de inteligência sobre programas militares e de inteligência estrangeiros. Ele disse que a participação das empresas na vigilância chinesa “viola o espírito da legislação de Tiananmen”.

O deputado Tom Lantos, democrata da Califórnia e presidente do Comitê de Relações Exteriores da Câmara, disse que as empresas americanas “obviamente desconhecem o significado de decência se estiverem buscando formas de usar as brechas em nossas leis para lucrar com as oportunidades de mercado oferecidas pelas Olimpíadas”.

Ele acrescentou que seu comitê continuará investigando o que considera como assistência corporativa americana à repressão política.

Mulvenon disse que o ritmo da mudança tecnológica significa que produtos com aplicações principalmente civis, como administração de sistemas de informática com poderosas funções de vigilância por vídeo, borraram a distinção entre tecnologias civis e de manutenção da lei. Mas ele disse que o Departamento de Comércio tende a definir de forma estreita as tecnologias que qualifica como sendo de controle e prevenção de crime segundo a legislação Tiananmen.

O funcionário do Departamento de Comércio disse que o Birô de Indústria e Segurança do departamento proibiu a exportação de um produto de “média tecnologia” para a China, para as Olimpíadas, cujo uso era claramente de manutenção da lei. O funcionário se recusou a identificar o produto e insistiu no anonimato por não estar autorizado a falar em nome do departamento.

Os gastos em segurança para as Olimpíadas aumentaram rapidamente neste ano, após a decisão pouco notada da China do começo do ano de criar um programa nacional de “cidades seguras”, estabelecendo redes de câmeras de vigilância em mais de 600 cidades.

Uma tabela na revista do ministério da segurança sugere o número de câmeras de vigilância necessárias em cada comunidade, com base em seu tamanho, proeminência internacional e localização -250 mil a 300 mil em metrópoles como Pequim e Xangai e 1.000 a 5 mil câmeras para cidades pequenas e comunidades rurais.

Londres já conta com mais de 500 mil câmeras, se o número incluir os sistemas de vídeo de bancos, supermercados e outros endereços comerciais. Mas as agências governamentais em Londres instalaram sistemas menores, separados, de poucas centenas de câmeras a cada vez, diferente da abordagem altamente integrada do governo chinês.

Em comparação, em Nova York a polícia está tentando montar uma rede de 3 mil câmeras públicas e privadas abaixo da Canal Street para desencorajar o terrorismo na Baixa Manhattan; ela está começando com 100 câmeras.

Mesmo a China carece de guardas de segurança suficientes para assistir as imagens de tantas câmeras. Assim, as autoridades estão comprando sistemas de computador estrangeiros que analisam automaticamente a informação, disseram executivos de segurança.

Na convenção de equipamentos de segurança deste ano -em Shenzhen, o centro da indústria de segurança da China- as multinacionais competiam com as empresas chinesas na oferta de produtos de alta tecnologia, enquanto policiais de todo o país visitavam os estandes.

Parte dos argumentos de venda das empresas americanas é que seus sistemas podem proteger a polícia local em casos de incidentes de suposto abuso policial. Quando um carro em Pequim atropelou um turista estrangeiro idoso, a polícia usou os sistemas da Honeywell para checar as imagens de uma câmera de rua próxima e descobriu que o turista atravessou a rua sem prestar atenção na sinalização, disse He Han, um engenheiro da Honeywell que trabalhou no sistema.

“Nós fomos uns dos primeiros a introduzir produtos avançados e práticas de gestão estrangeiros”, disse He. “Nós contamos com a maior rede de usuários na China.”

Se as empresas americanas não venderem sistemas de segurança aqui, as empresas chinesas venderão; a conferência de Shenzhen atraiu um punhado de empresas americanas, mas cerca de 800 dos quase 1.000 expositores eram chineses -e estavam disputando contratos agressivamente.

Os jovens engenheiros de terno e gravata nos estandes americanos contrastavam muito, por exemplo, do estande de uma empresa chinesa com meia dúzia de mulheres jovens com botas de couro pretas e micro e minivestidos prata metálico.

A China provavelmente sairá dos Jogos Olímpicos com uma capacidade de vigilância impressionante, disse Vickers, o ex-policial de Hong Kong.

“Eles certamente estão comprando o que há de melhor”, ele acrescentou. “Primeiro, porque o dinheiro fala alto, e segundo, porque sejam quais forem as questões diplomáticas envolvidas, os Estados Unidos querem ser os fornecedores dos Jogos Olímpicos.”

Origem: Notícias UOL

Marcelo Peres
Editor do Guia do CFTV

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Eng° Marcelo Peres

Eng° Eletricista Enfase em Eletrônica e TI, Técnico em Eletrônica, Consultor de Tecnologia, Projetista, Supervisor Técnico, Instrutor e Palestrante de Sistemas de Segurança, Segurança, TI, Sem Fio, Usuário Linux.

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